Tal como muito boa gente, acredito eu, quando me comecei a interessar e a ter gosto por escrever poesia, fui pesquisando na Internet dicas e conselhos para melhorar a qualidade das minhas obras.
Ora, um dos conselhos que mais vi frisado foi que para se melhorar poeticamente, tem que se ler boa poesia, bastante poesia. Acaba por um conselho normal e expectável. Umas das maneiras de se melhorar num determinado aspecto da nossa vida, para além da prática, é seguir bons exemplos/aprender com os mestres. No caso da poesia, a não ser que se conheça um mestre pessoalmente, aprender com os melhores é ler a obra das mais variadas estrelas desta arte.
No entanto, será que para melhorar a nossa escrita de poesia, precisamos assim tanto de inserir mais boa poesia na nossa dieta literária? Tentar melhorar, tendo como base os grandes poetas, não poderá ser até contraproducente na produção de uma visão poética pessoal e original?
Claro que se gosta de escrever poesia, também haverá uma parte de nós que gosta de a ler. Ainda mais quando se começa a divulgar a sua própria poesia, e se começa a inserir em comunidades de companheiros poetas. No entanto, ao usarmos a poesia de outras pessoas como base de como a boa poesia deve ser, não ficaremos contaminados com as visões destas pessoas, com as suas maneiras de escrever, com as imagens que associamos à sua escrita?
Falando de mim, nunca fui grande consumidor de poesia. Gosto de ler, mas honestamente não é algo que esteja muito presente na minha colecção de livros. Gosto muito é de escrever, de com as letras conseguir definir e transmitir pensamentos, medos e sentimentos. Cada vez gosto mais de escrever, e tenho gostado bastante de ler as poesias de outros autores tão anónimos como eu. No entanto, não sinto que preciso de ler mais poesia para melhorar/escrever bons poemas.
Mais ainda, ao não ler a dita poesia dos mestres acabo por escrever poemas que podem não ser tão belos como seriam se me cultivasse mais poeticamente, mas para mim são mais puros e verdadeiros. Ao não ter grandes bases de poesia, quando fico inspirado por algo ao escrever tudo o que sai são palavras, ideias, sentimentos e associações minhas. Tenho a certeza que se tivesse a começar a ler mais poesia do que o habitual, a esta altura quando convocasse as letras elas já viriam contaminadas com a "voz" de outros poetas. Assim posso dizer que a poesia que escrevo vem de mim, e mim apenas.
Claro que não digno para não se ler nada. Eu leio, e leio bastante. Simplesmente não é poesia. E não busco inspiração só em mim, busco no que vejo, no que leio e ouço. E tento sempre estar receptível a inspirações vindas de todo o lado.
Agora, sei que se fizesse um grande estudo de poesia, quando escrevesse sobre o que me inspirou não falaria só com a minha voz mas inconscientemente com a voz de outros. E para mim, a magia da poesia é conseguir derramar a essência da nossa alma num conjunto de versos.
Acabo esta reflexão, perguntando-vos o que acham sobre este tema?
Sempre vosso,
Luís.